sexta-feira, 5 de junho de 2009

LoUcUrA I

Se acalma muié, arrê! De que adianta ficar se autoaperreando agora? Ai, ela tá olhando pra mim. Das duas uma, ou gostou demais ou desgostou demais também. Será que ela viu minha mão tremendo? Deixa eu segurar a bolsa pra disfarçar. Pronto, maravilha!
- Gente, peço a vocês que deixem suas bolsas sobre aquela mesa, por gentileza, pra todo mundo ficar mais a vontade.
Ah eu fico bem mais a vontade com a bolsa aqui comigo, me deixa ficar com ela, vai? Hummm. Mas com essa aí, não tem conversa. Essa galera de Rh, oh gentinha mau caráter, vou te dizer. As mulheres então, nooosa senhora, têm aqueles sorrisinhos “In” sabe “comé” que é? De gente bacana, descolada, jovial, capa de caderno Tilibra. Claro que digo isso pra me defender, desse papel de besta que tô fazendo aqui. Coisa mais baixo astral é pra mim é dinâmica de grupo. Aflição pouca é bobagem.

Até nos apresentarmos estava tudo muito bem, tudo muito bom... aí tiveram a brilhante idéia de contarmos a história dos nossos nomes, o que foi de péssimo gosto, afinal num momento de extrema tensão, você ter que pensar em questões relativas à sua origem pode vir à tona coisas que você nem sabe lidar naquele momento, como aconteceu com um sujeito, pobre homem, que desatou a chorar. Tudo culpa do pessoal do RH, já devia está tudo mancomunado. São ruinzinhos, prestam não.

Mas teve o auge da dinâmica, e não foi o cabra chorando feito uma cabritinha não. Eis que surge uma tal de Bebel, uma perua de marca maior, que atendeu o celular dentro da sala, como se não bastasse, falou no rádio. Ria feito uma louca e na hora de se apresentar mandou meia dúzia de frases de auto-ajuda fajuta. Coisa que impressionou muitíssimo a moçinha do RH, que não conseguiu disfarçar a identificação com aquela pieguice toda.

E afinal quem foi pra "academia"? Ela, senhorita Bebel. Como não? A bonitinha então pediu a todas nós que aguardássemos em casa. Ah que raio de critérios são esses para aprovar alguém, não que a oferta fosse tentadora, trabalho nunca é muito tentador, mas era uma questão de justiça apenas, e sem pensar muito voei por cima daquela mesa e arranhei toda cara dela. De repente as outras meninas rasgavam o que havia em cima da mesa dela, todas fomos tomadas pelo ódio que todos temos adormecido dentro de nós. Jogamos os papéis pela janela, que saiam voando pelo centro da cidade. Subimos em cima das mesas e gritamos:

- ah ah uh uh , é marmelada!
- ah ah uh uh , é marmelada!

Chamaram os seguranças, e a sala foi invadida por uns homens robustos. Que dava gosto de ver. Fiquei tão satisfeita que pulei em um deles pelas costas feito uma "macaca anfetaminada". Saímos muito a contragosto e gritando horrores. Quando o elevador se abriu nos soltamos, perguntei pela minha bolsa, me devolveram, então me recompus, retomei minha serenidade. Era outra... e melhor.

"Nunca aos loucos, um falso engano seu condiz"...
Fernando Pessoa