terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Alembração 1

Minha mãe, reclamando do atraso do pedreiro, minha vó sentada com aquela cara blasé.Levantava as sobrancelhas e soltava uma gargalhada cansada.

-Celinha, deixa de ser besta, qualquer hora ele vai chegar.Que hora que ele marcou?

-Não marcou hora não, mãe.Mas disse que a noitinha ia aparecer.

-Então comé que tá atrasado se não marcou hora, gente?

Soltou a gargalhada sem vergonha de novo.E disse:

-Bobagem, daqui a pouco o home chega.

Essa é a minha vó, que não se deixa avexar por nada, de tudo tira sarro, não poupando nem a ela mesma.Por esses dias ela veio pra minha casa.E demos pra ficar alembrando causos.Coisa que me deixou num estado de graça que só vendo.

-Lembra que nós fazíamos shows na frente da casa? A gente pegava uns panos nos armários, pra fazer o cenário, as roupas exóticas, uma panaiada só, mandava beijo, tínhamos repertório e o escambau, lembra Vó?

-Lisângela e você pegavam meu som, botavam lá na frente, e davam de ficar dançando.Agradecendo quem passava pela rua.Marcando show pro dia seguinte.Falando um monte de nome de lugar, que vocezis (assim mesmo que ela fala) iam estar.O povo parava, e ficava olhando...Devia de achar vocês tudo malucas.

Minha vó solta de novo uma gargalhada e segue falando.

-Vocezis sempre foram umas nigrinhas folgadas.

-Claro ninguém dava confiança à gente.Aí dava vontade de aparecer, mesmo.Foram dias de espetáculo, vó.Aquela cidade ficava movimentada.Afinal tinha um show acontecendo na varanda daquela casa verde e lá no alto.

-Você e Lisângela nunca tiveram vergonha na cara.

-Como assim vó?Não fala isso.

-É verdade mesmo ué, nunca tiveram.

Ah, tempinho bom era esse que minha vó ainda carrega nela.Quando ela conta, eu vivo de novo.E sorrio com o corpo inteiro.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Semaninha pelejenta , foi essa!


"cariocas não gostam de dias nublados"

Cariocas, Adriana calcanhoto.

Eta lombeira que dá nesses dias meia boca, essa chuvinha rendinha, que parece que num vai acabar nunca.Qualquer passeio aqui, por essas terras do Rio de janeiro é uma Disgracença só com um tempo desses, não dá vontade de largar o edredom.Agora, se tem se tem sol pra queimar nosso lombo, qualquer programa é programa.Eu reclamo, mas não vivo sem ele.Semana passada mesmo, falava com um amigo, que tava pelos lados do interior de sampa, e eu amaldiçoava a tudo e todos, por conta desse sol mardito que ardia aqui sob minha cabeça, que não importava a hora, não dava trégua.Ele voltou ao Rio e o sol me prega essa peça.Eu tô pra lá de puta,com esse tempo, é janeiro cara.Quero sol, que seja pra reclamar dele, pra rebocar de protetor essa minha fuça branca (Que, diga-se de passagem, num agüenta nada).Pra recarregar minha bateria, que é solar, como de todo carioca.Rogo ao sol nosso de cada dia, que vorte a nos fazer sentir picanhas ambulantes, ou na melhor das hipóteses, cabras e cabritinhas no árido sertão de meu padim Ciço.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Dom Henrique, o infante.

Essa historinha começa como tantas outras, com uma simples apaixonite por um professor de história, coisa pouca, ninguém achava que ia longe.Ela tinha seus dezesseis aninhos e deslumbrada por aquele cabeludo de um metro e meio de cabeça emperrada(O homem não sabia o que era pescoço.Ou melhor, não sabe, por que ainda é vivo).Mas cada dia que passava aquela paixonite virava uma fissura, até o dia em que ela conheceu uma outra apaixonada por ele.Eram da mesma turma, aí udeu mesmo, por que a outra era louca de pedra, vasculhava a vida do pobre homem, tudo na surdina.


Esse encontro não poderia dar certo e de fato não deu.Foi explosivo.As duas se lançaram numa jornada insana, descobriram tudo.Telefone, endereço, orkut e o caramba a quatro do dito cujo.Agora me digam, vocês acham que tanta informação era pra que?Ficar num caderninho jogadas, assim infrutíferas.Lógico que não, tolinhos.As duas cismaram de conhecer a casa dele, e chegando lá conheceram até a avó, uma portuguesa, que disse que ele estava a trabalhar.Nas aulas a participação era praticamente só delas.E o salafrário podia ser o que for, mas tinha carisma, até eu simpatizava muito com ele.Claro sem extravagância.Ele era o típico professor de cursinho, estrelinha toda vida.Um contador de história nato.


É Dom Henrique, foi levando no banho-maria durante dois anos, aí deu o bote.Era fim de ano, as férias se aproximavam e as duas estavam sempre juntas nas suas jornadas empreendedoras.Lugares que poderiam encontrá-lo, pessoas que poderiam conhecê-lo.Enfim, naquela euforia, quem já passou sabe como é essa aflição.Sumiram por uns tempos e depois minha amiga me telefona contando que tinha viajado com o Infante.Pra mim era tudo mentira, mas ouvi com atenção.Afinal, mesmo se fosse, ela teve muito trabalho pra montar tudo aquilo, valia a pena escutar.Pois não foi que as duas viajaram com o professor, e mais uns amigos dele.Um de nome muito engraçado, meio leguminoso.Mas por razões éticas, ainda tenho um pouco, não vou expô-lo.Viveram uma semana de intenso amor.Coisa mais linda é o amor só pelo amor.Sem cobranças aparentes.E foi assim.Tudo aconteceu num piscar de olhos pra elas, pra mim nem num piscar de olhos.


Chegou janeiro, o cabeludo cheio história some, não liga, nem atende, muito menos aparece.Filho de uma égua com a pata quebrada.As meninas já loucas se entregaram a uma loucura maior, cada uma à sua maneira.Minha amiga amava tanto que só queria saber se ele estava bem, a outra não aceitava perder, e ainda entrou numa paranóia de que podia estar perdendo ele pra ela.Fazia constantes telefonemas só pra sondar a minha amiga, que mal podia ouvir o nome dele.Mas noticia ruim não precisa procurar, vem a galope.


E o sem vergonha enfim ligou pra dizer que estava namorando uma menina de quinze anos, do segundo ano do nosso colégio.Ah! Perderam pra uma mulher mais nova (rs).Começavam as apunhaladas finais, arrasadas voltamos para nosso último e trágico terceiro ano.Nosso ano foi de correria, éramos seis meninas, e dávamos cobertura para as duas.Lá vinha o infante, Dom Henrique com sua namoradinha, feliz e cantarolando, sorrindo e acenando no pátio.E nós íamos tirá-las dali, uma verdadeira comoção pra não deixá-las ver ou ver o mínimo possível.

Quantos recreios chorosos, correrias, disse me disse e ele nem aí.No fim do ano eu ia voltando pra casa e lá estava seu carro estacionado, o mesmo que levou minhas amigas loucas por ele, pra um sonho de uma semana e pesadelo de um ano ou mais.Por que uma arrumou um namorado com o mesmo nome dele, surtou, e a outra nunca mais foi a mesma de antes. Ele que diga que não sabia, que eu vôo no pescoço dele.Esqueci, não tem pescoço.Mas digamos que o carro dele sofreu represálias, quem mandou bancar o bacana?