segunda-feira, 28 de junho de 2010

"Garciamarquezco"



Lá do alto os cães entoavam uma sinfonia de lamento, mas sabe-se lá se era de lamento mesmo. A véia se fora e com ela toda amargura que num cabia no mundo. Em vida só me ensinou que temos que tomar muito cuidado com o que podemos nos tornar cada coisa que faz arrepiar o mais rebelde dos pentelhos. Mas em morte, me levou àquele lugar melancólico, poético, que me despertou na mesma medida solidão e solidez . E me pus as desbravar feito criança seus mistérios. Fiz o caminho que me levaria até os cães, li lápides curiosíssimas outras nem tanto, e seria de esperar que lembrasse alguma para dizer a vocês, mas não, não lembro. 

 O vento soprava um assobio tenebroso e levantava uma névoa de barro vermelho que fazia arder às vistas. Lá embaixo acontecia o enterro da vó, e tava lá toda família, família essa que eu pouco ou nunca vi na minha vida. Evém Maria da dita que nunca ouvir dizer, e o seu fulano padrinho do pai, padrinho bem ausente diga-se de passagem, pois sou filha do meu pai há vinte três anos e nunca tinha ouvido falar do tal. Enfim, aquele bando de estranhos que puseram em nossa frente e a gente teve de se acostumar. Por essas e outras preferi ver de longe. 

Seu coveiro tirou  o chapéu e me fitou, perguntou se eu estava passeando e fiz que sim com a cabeça, perguntei quem cuidavam dos cães e ele me disse que eles se criavam, que  tinha muita gente pra cuidar deles ali, disse rindo e foi então que me esgueirando por entre as covas me arredei dali. Descendo com o vento nas ventas, vento que por ora me levou as mazelas da cabeça e me trouxe o pensamento. Que daqui algum tempo, eu, como a vó, também serei vento. E isso, meus caros não é um lamento.