Noite fria pra “daná”. E o filme que ia começar era surpresa. Então não tínhamos idéia do que podíamos esperar dele. Não tenho a pretensão de criticar a Maratona Odeon, (um evento que acontece na primeira sexta feira do mês no cinema Odeon, começa por volta da meia noite e termina de manhãzinha, com um lindo café da manhã servido, são apresentados ao longo da noite três filmes com intervalos entre as exibições) mas vez por outra, ela se torna uma cilada. Tu tens que ser um cabra bem atento pra num cair nessas presepadas. Vê-se que não sou. E nessa longa espera me deparo com um tipo Apache, Ianomâmi, Xavante... E pagé, daqueles bem caricatos, mas o “home” era bem afeiçoado, forte sabe? Demorou pra eu perceber que era um morador de rua. Primeiro ele me disse que eu era muito bonita, agradeci. Depois perguntou se eu me via através dele. Disse a ele que sim. Ele disparou a rir, e a dizer que eu era muito inteligente. Em seguida, baixou o olhar e fixou-o nas pernas da minha amiga, elogiou passando a mão no queixo como quem vislumbrasse muita coisa naquelas pernas. De repente, não mais que de repente, olhou pra mim e disse que isso era pra eu aprender que eu não sou o centro do mundo. O filme já ia começar. E disse isso a ele. Que logo ficou transtornado, ofendidíssimo, como quem acaba de ser ultrajado. – Pensa que não percebi seu artifício? Eu perguntei de que artifício ele falava. E ele prosseguiu dizendo que se eu não queria sua companhia, sua sabedoria que o enxotasse dali. E continuou: - Mas não me trate como ignorante. Ignorante, ele disse. Começou a se auto-enxotar aos berros, às três da manhã em plena Cinelândia. Afastou-se gargalhando. Assisti ao filme, uma comédia pavorosa, tal de Rumba. O dia raiou, e raiou com ele um pensamento de que aquele acontecimento, aquele encontro, tinha muito mais a me dizer do que os três filmes assistidos naquela noite. Por um instante me ocorreu que talvez a louca seja eu.
sexta-feira, 24 de julho de 2009
terça-feira, 14 de julho de 2009
LoUcUrA II
Tá lá Marianinha, numa manhã ensolarada, esperando o ônibus sair. Eis que se aproxima um sujeitinho, cá pra nós, muito mal encarado com uma cabeça esburacada, parecia que tinha se metido a besta de cortar o cabelo e pelo visto não foi bem sucedido, "tadinho". Tinha olhos bem esbugalhados, que crê em Deus pai! Parecia inté “sombração”. Olhava fixamente pra mim. Eu achava que tinha um sorvete nas mãos até constatar que ele estava no chão. Olhando pro chão... Ouvi:
- Oh menina, eu tô com muito medo.
-Eu também. Aliás, tô morrendo de medo, meu filho. E não era mentira, eu tava em pânico, com aquele sujeito me olhando. Entrei no ônibus. Achei que o sufoco já havia passado. E passou? Passou não, meu bem. O dito veio meio recatado e sentou ali do meu lado. Ai puta que o pariu quanto mais eu rezo mais maluco me aparece.
-Você pode segurar minha mão? Por favor...
A princípio pensei que de maluco ele não tinha nada, mas um homem daquele tamanho, robusto que só, passar por um papelão desses pra dar em cima de alguém seria uma vergonha.
- Dá’qui a mão, vai. Acabei me apiedando. Que presepada... Ele até que se aquietou um pouco depois de darmos as mãos. Mas continuava suando mais que vaca indo pro abatedouro. Que mais ele podia me pedir? Perguntei onde ele ia saltar e ele me disse que no Hospital dos servidores. Ia ver um tal doutor Ívano.
-Vou ver o doutor, ele está lá hoje.
-Faz muito bem. Bom saber, vai descer antes de mim. Logo chegou o Hospital dos Servidores. Aí me pediu pra levá-lo até a porta. Ora, se já confessei meu medo a este homem, dei as mão a ele durante todo o percurso e lhe prestei palavras de consolo por que não leva-lo a porta?
- Vamos lá. O homem não soltava a mão. O motorista queria fechar as portas, eu não sabia se descia ou se cometia um ato bárbaro e empurrava aquele homem escadas abaixo. Ele perguntou se eu ainda estava com medo. Eu disse que agora ainda mais que antes. Então me disse que não podia largar minha mão. Meio comovida, mas ainda tendo de fazê-lo descer. Eu disse que, aliás, todo mundo ali estava morrendo de medo. Ele olhou sério para as pessoas e me disse que não parecia. Disse a ele que elas fingem muito bem.
-Posso largar sua mão? Me perguntou.
-Pode, eu também vou fingir que passou meu medo. Ele desceu e ficou parado me olhando pela porta, sorrindo com um sorriso que só os loucos têm. Que parece entender tudo e nada ao mesmo tempo.
segunda-feira, 13 de julho de 2009
Malhuquin, malhuquin
Cês puderam notar que houve um período de recesso, e para essa nova fase o “Se avexe não” recebeu um trato e está lustroso toda vida. Pra comemorar o retorno teremos a novidade da série "Malhucos". Pequenos contos que darão voz a tantos loucos que já cruzaram o meu caminho. Costumam dizer que tenho um imã e realmente eles não param de chegar a minha vida. A loucura está presente. Espero que se divirtam.