Noite fria pra “daná”. E o filme que ia começar era surpresa. Então não tínhamos idéia do que podíamos esperar dele. Não tenho a pretensão de criticar a Maratona Odeon, (um evento que acontece na primeira sexta feira do mês no cinema Odeon, começa por volta da meia noite e termina de manhãzinha, com um lindo café da manhã servido, são apresentados ao longo da noite três filmes com intervalos entre as exibições) mas vez por outra, ela se torna uma cilada. Tu tens que ser um cabra bem atento pra num cair nessas presepadas. Vê-se que não sou. E nessa longa espera me deparo com um tipo Apache, Ianomâmi, Xavante... E pagé, daqueles bem caricatos, mas o “home” era bem afeiçoado, forte sabe? Demorou pra eu perceber que era um morador de rua. Primeiro ele me disse que eu era muito bonita, agradeci. Depois perguntou se eu me via através dele. Disse a ele que sim. Ele disparou a rir, e a dizer que eu era muito inteligente. Em seguida, baixou o olhar e fixou-o nas pernas da minha amiga, elogiou passando a mão no queixo como quem vislumbrasse muita coisa naquelas pernas. De repente, não mais que de repente, olhou pra mim e disse que isso era pra eu aprender que eu não sou o centro do mundo. O filme já ia começar. E disse isso a ele. Que logo ficou transtornado, ofendidíssimo, como quem acaba de ser ultrajado. – Pensa que não percebi seu artifício? Eu perguntei de que artifício ele falava. E ele prosseguiu dizendo que se eu não queria sua companhia, sua sabedoria que o enxotasse dali. E continuou: - Mas não me trate como ignorante. Ignorante, ele disse. Começou a se auto-enxotar aos berros, às três da manhã em plena Cinelândia. Afastou-se gargalhando. Assisti ao filme, uma comédia pavorosa, tal de Rumba. O dia raiou, e raiou com ele um pensamento de que aquele acontecimento, aquele encontro, tinha muito mais a me dizer do que os três filmes assistidos naquela noite. Por um instante me ocorreu que talvez a louca seja eu.
sexta-feira, 24 de julho de 2009
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