sábado, 17 de abril de 2010

Evém toró


"Seu boiadeiro por aqui choveu
Seu boiadeiro por aqui choveu
Choveu que amarrotou
Foi tanta água que meu boi nadou".

Canção: Chover (Ou invocação para um dia líquido).
Lirinha e Clayton Barros


Era fim de tarde, a chuva já começava a se exibir. Fiz uma proeza pra pegar um ônibus, me lancei no meio de carros, dei uma de louca pra sair da chuva. E por muito pouco não fico na chuva pra sempre. Mal imaginava a jornada que seria voltar pra casa. Nossa hora de rush e consegui ir sentada valeu a pena a sandice, pensei. Porém, logo a chuva apertou e percebi que sentei na janela depredada, falando as claras, minha janela não tinha vidro. “Dispôis” dessa triste constatação deu de cair uma chuvarada que parecia nunca que nunca mais ia parar. A chuva caia sobre todos e meu sono caiu sobre mim, um sono pesado que só vendo. Parece até que eu vinha de uma obra. Toda molhada, mas dormindo profundo.

Quando acordei rolava um burburinho. E Fui logo tratando de me inteirar do que tava acontecendo. Perguntei a um senhor que estava próximo, mas pra quê eu fiz isso? O “home” era chato toda vida, e pior, nos agourava a todo o momento. - Qualquer acidente nós seremos indenizados, estamos em segurança. Ninguém precisa se preocupar. Na hora não me fazia muito sentido por que ele estava tão certo dessa segurança. Mas ao longo das quatro horas, ele teve tempo de sobra pra se fazer entender. O espertinho já ganhou várias causas com empresas de transportes públicos, é quase um “caça-causa”. Qualquer coisa é motivo pra uma indenização.

Do meu lado, uma menina jeitosinha, só fazia reclamar da aula que tinha perdido, e aporrinhou o namorado até não poder mais. - Amor, quem te ama hein? Quem tá levando bala de coco pra você hein bem?Vou passar aí amanhã de manhã tá amor? Cê ta me ouvindo bem? Então fala alguma coisa meu benzinho?

Nossa que maçada foi aturar aquela menina. Mas olhando pela janela, que não era uma janela, a situação estava bem mais tensa. No fim das quatro horas ali, todos já estávamos familiarizados, até com o coroa caça-causa. Sabíamos da vida de todo mundo, onde morava, onde estava indo, onde trabalhava. Um sujeito se meteu a besta de reclamar que a juíza o fez pagar uma cesta básica para uma instituição carente, injuriadíssimo. Tive que perguntar a razão. E o dito veio com um papo atravessado de que a mulher partiu pra cima dele... Meio que se justificando... Criou-se uma comoção, a galera começou a dar palpite, o homem não sei se por vergonha ou não, desceu no ponto seguinte, com o rabo entre as pernas, e as pernas debaixo d’água.

Não fosse por aquele caos, as pessoas sentariam e desceriam, como estranhas como são todos os dias. Se bem que não sei se eram mais estranhas antes de conhecê-las ou depois.

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