Esperava na varanda tomando banho de mangueira. Tava um calor do diacho, e domingo na minha casa é dia de grandes recepções.Vai dando meio dia, o povo vem se chegando, e meu prazer maior mesmo era molhar a cambada toda, assim que chegava. Eram as minhas boas vindas. Eu era ruinzinha toda vida, hoje graças ao bom Deus, eu me regenerei. Nesse dia quem vinha nos visitar era Tia Florlina, que pra mim sempre foi pitoresca. Trata-se de uma negona de cento e vinte quilinhos, coisa pouca.Usava uns blusões estampadíssimos, tropicais que só eles, na boca um batom vermelho com cheiro de uva que não me esqueço. E o melhor. As ombreiras ouviram isso? Ombreiras minha gente. Tia Flor não sabia, melhor, ela ainda não sabe, que já tinha ombros bastante avantajados. Mas...
Como se não bastasse trouxe Zelda. É Gizelda, mas cá entre nós, fica Zelda mesmo. Que era outra que não ficava por menos. Fazia o tipo vovózona, principalmente na voz. E tinha uma unha que vou te dizer, Elke Maravilha perde.
Assim que chegaram as recepcionei, era o que eu fazia de melhor. Aí rolou aquele deus nos acuda típico, de perua molhada. Se é que me entendem. Minha mãe fez peixe de tudo quanto é jeito, pirãozinho, caipirinhas, cervejinhas, e parará caixinha de fósforo tudo como o figurino de “armoço” de domingo no subúrbio.
E é nessa hora, que minha tia sempre, é certo, conta a história da feira de Osvaldo Cruz.Todo mundo já sabe que ela vai contar. Mas mesmo assim ainda perguntam do que ela tá rindo.
Minha tia com a mão na testa, rindo de chorar, se acabando, esperando só alguém perguntar.
Eu queria me divertir, então resolvi perguntar.
- Que foi tia?
- Ah filinha titia tá lembrando do escândalo que foi, uma choradeira só, a barraca limpinha gente, ah... O que é, o que é do Gonzaguinha arrebentando nas rádios, e eu escutava essa música, esquecia da vida. Aí, num domingo de feira, armei a barraca, não tava dando muito movimento, tocou a música, e a neguinha malucou, esqueceu da vida, desceu a rua cantando e dançando. Já com umas cachacinhas na cabeça e hê hê(o grande bordão dela) lá se foi tudo, minha filha. Quando voltei, a barraca já tava limpinha. Moacyr me arrasou. Acabou comigo, mas não dei confiança a ele, chorava, mas ria, ria muito também...Tempo bom era esse.
Zelda rindo convulsivamente, até por que só sabia rir desse jeito. A mesa virou uma risaiada só. E tia Flor cantando com uma tristeza no olhar e um sorriso vermelho borrado no rosto.
- “É bonita, é bonita e é bonita”, hê hê...